sábado, 9 de maio de 2009

Autorizações


Depois da aventura atrás da Puru, eu fiquei zanzando pelo hospital. Fui pesquisar artigos para a tese, pesquisar sobre a possibilidade de fazer um doutorado... dentre outras coisas. Fui para casa torcendo para que a polícia não me parasse (carteira vencida desde dezembro/2008) e descansei.
No mês passado tivemos mais gastos pela minha ausência na clínica, e a clínica está com a corda no pescoço nesse mês. Recebi uma ligação da clínica, era a Renata: Alice, nem vou perguntar se você pode porque você tem que poder.. que horas você vem para operar uma piometra (infecção no útero)?
Claro que eu me disponibilizei no mesmo instante. Fizemos essa cirurgia com calma. Foi tudo tranquilo, apesar do estado da cachorra estar muito ruim. Ela já estava sofrendo dessa infecção há cerca de 30 dias, como era uma infecção fechada, isto é, não havia drenagem de pus pela vagina, o quadro tendeu a piorar muito rápido. Durante a tricotomia a pele da cachorra se soltava, estava muito desidratada. Eu, como anestesista, conversei calmamente com os proprietários sobre as não só possíveis como prováveis complicações. Foi a maior piometra que eu já vi na vida. Não estava muito pesada, era um útero de cerca de 3,5 kg, para uma cadela de 20 kg, mas o útero estava muito dilatado, qualquer movimento mais brusco já causava rompimento. (foto para curiosos)
Nessa mesma semana, tínhamos outra cirurgia para fazer, e eu anestesiar. A Mimi, uma cadela de 13 anos. Era a retirada de tumor de mama, relativamente simples, mas anestesiar um animal de 13 anos é muita responsabilidade. Conversei com o dono sobre as complicações... e o mesmo:
"Olha, não vou assinar o termo antes de falar com meu pai não, ele é muito rigoroso."
Então nós esperamos o pai chegar, e o mesmo já chegou conversando:
"Olha doutora, estou com pressa e me fale rapidamente o que aconteceu?"
"Veja bem, Sr, eu preciso que vocês autorizem a cirurgia tendo conhecimento dos riscos. Apesar dos exames dela terem tido bons resultados e de utilizarmos a anestesia inalatória que é mais segura, ela não está livre dos riscos, até pela idade."
"Mas eu tenho que assinar isso por que?"
"Sr., eu sofri uma cirurgia há cerca de 30 dias e precisei assinar um termo que dizia que eu poderia ter falência de órgãos e morte cerebral. O senhor precisa saber dos riscos para autorizar ou não. Não fazemos sem autorização."
"Sim, mas ela vai morrer? quantos porcento de chance de isso acontecer?"
"Olha, Sr, é difícil dizer... cerca de 30%."
"Ok, então vamos deixar para fazer na semana que vem, vou preparar a família, está marcado.
Por que eu confio em vocês, se fosse aquela outra veterinária que atendia a Mimi e (virando-se para a recepção) é uma INCOMPETENTEEE que prescreveu um remédio do coração que minha cadela não precisava, eu não deixava."
"Sr., deixe disso, não se aborreça"
"Ahh, me aborreço sim, eu sou consumidor e tenho direito de reclamar, e sou advogado, sei de... blablablabla"
e por aí foi

no final do dia, havíamos remarcado a cirurgia e eu disse: "Renata, se o camarada detesta a outra veterinária porque ela prescreveu um medicamento errado, imagina se essa cadela morre na nossa mão sem ele ter plena consciência dos riscos?"

Para diversos tipos de procedimentos na clínica nós aplicamos um formulário de autorização, são eles:
Para internamento: onde o cliente autoriza o internamento e a aplicação de todos os medicamentos necessários e realização de exames.
Para cirurgia e pós operatório: onde o cliente alega estar ciente dos riscos e mesmo assim autoriza o procedimento e se responsabiliza pelos cuidados pós operatórios do animal. Caso não possa prover com os cuidados, assume que vai procurar internamento apropriado.
Para utilização de medicamentos potencialmente tóxicos a longo prazo: algumas afecções são tratadas com medicamentos que a longo prazo podem causar danos em fígado, coração ou rins. Portanto o proprietário alega que sabe dos riscos e assume trazer o animal para exames periódicos para avaliação da função dos órgãos.
Para eutanásia: Onde descrevemos o quadro do animal e o proprietário alega que entendeu toda situação, é o responsável pelo animal, se decidiu, por conta própria, pela eutanásia, e assim, autoriza o procedimento
Formulário de responsabilidade: aquele aplicado quando o proprietário decide ir contra a recomendação médica por qualquer razão e não quer pagar pela realização de exames essenciais, não quer internar ou autorizar algum procedimento como cirurgia.

Basicamente esses são os termos mais utilizados na rotina clínica.

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• Diário de uma Veterinária


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4 comentários:

Anônimo disse...

São muitas as preocupações e responsabilidades que temos qndo há um animal na mesa de cirurgia. Mas eu fico pensando? e se fosse um humano q precisasse de uma cirurgia tal como essa?Será q esperaria uma semana pra tomar a decisão de operar??????bjus minha amiga

Aline Vachelli disse...

Olá! Esses seus posts explicativos são ótimos!
Ajuda e esclarece muitas pessoas leigas no assunto, como eu.
Beijoss

Paula disse...

Isso é uma aberração!!!!
Parabéns pelo sucesso da cirurgia e principalmente da anestesia.
Bjos

Polly disse...

oi querida..adorei seu blog..estou com uma dificuldade com os termos d eresponsabilidade...vc poderia me fornecer uma copia deles p serem usados em minha clinica aqui em sao paulo?desde ja grata,Pollyana