quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Enterro e hospital


O bom de trabalhar em um bairro simples é que a gente acaba conhecendo todo mundo, se envolve, se diverte...
Um dia atendi um paciente, o Miquei, com problema cardíaco. Não respirava direito, estava com edema pulmonar. Orientei então que levasse na Universidade próxima, a UESC, para fazer um eletrocardiograma e acompanhamento.
"Mas doutora, eu não tenho carro"
Lá fui eu levar a proprietária e o cão pra UESC. Ao chegar lá, ele estava cansado, fomos andando devagar, quando ele teve um desmaio, corremos para o atendimento mas ele morreu ali mesmo. Foi um sofrimento, a proprietária chorava, eu fiquei arrasada, e ele então foi quem mais saiu perdendo.
Voltamos para Ilhéus, a proprietária aos prantos: "Como eu vou contar pra minha mãe, ele era a sua razão de viver, que que eu vou fazer??? Onde vou enterrar???"
Eu fiquei morrendo de dó, me disponibilizei para qualquer coisa.
Ela aproveitou dessa minha disponibilidade.
Dei a notícia para a mãe. Abracei. Ouvi 2 horas de histórias sobre o cachorro. Fomos todos para a praia, enterramos o bichinho, fizemos oração, cantamos um hino.
Não trabalhei mais nesse dia, a mãe da proprietária guarda uma foto minha na carteira e diz pra todo mundo que eu cuidei do filhinho dela e ajudei a enterrar.
Outro dia eu liguei para uma proprietária, a D. Laura, para passar um resultado de um exame e percebi que ela não estava muito bem. D. Laura é uma senhora bem simples, que cria mais de 20 gatos e 5 cachorros, próximo ao consultório. No telefone ela falava com dificuldade, estava com falta de ar, o marido estava na fazenda. Bom, mais uma vez lá fui eu, fechei o consultório, fui na casa da D. Laura buscá-la, levei para o hospital. Ela então foi atendida, tomou medicação. Ficou no soro, depois a levei pra casa de liguei algumas vezes para saber como estava. A senhora chorou tanto, agradeceu. Depois disso, sempre que podia, ela levava mandioca, banana da terra, bolo e canjica pra mim.
Veterinária é isso, é fazer mais do que pode e poder fazer de tudo.

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• Diário de uma Veterinária


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5 comentários:

Anônimo disse...

Menina!!!! Q vida essa hein? Veterinária tem q ser um pouco psicóloga mesmo, mas daí a "serviços funerários"..... ohhhh
Chega a ser engraçado, mas mostra quão bom é seu coração...

Anônimo disse...

Você é um anjoOoOo.

Adorei o blog.

Beijos querida.

Lelê Fagundes disse...

Adorei!
Pena que você não é de São Paulo!! O Tchê, meu labrador, ia estar sempre na sua clínica!

Anônimo disse...

tenho me pegado lindo ate os comentários que vc recebe... seu blog me emociona e me diverte realmente..um grande abraço
Heneile

Carina disse...

Se continuares assim serás canonizada, guria... Vais para o céu sem escala. Tenho me identificado com teus textos. Já fiz destas também.